Amphisbaenia: répteis fossoriais de vida subterrânea.
Universidade Estadual de Feira de Santana
A subordem Amphisbaenia é relativamente pouco estudada, sendo conhecidas aproximadamente 160 espécies, amplamente distribuídas ao longo da América do Sul e da África tropical. No Brasil o grupo é bem representado, ocorrendo no estado da Bahia três gêneros: Amphisbaena, Cercolophia e Leposternon. Considerado, ora como serpentes ora como lagartos, este pequeno grupo de répteis de hábitos estritamente fossoriais teve a sua classificação revista por diversos autores, tendo sido definido em uma categoria à parte e reconhecida no meio científico como subordem Amphisbaenia. Contudo, as relações de parentesco entre esses grupos ainda hoje não estão bem estabelecidas. Popularmente conhecidas como cobras-de-duas-cabeças, os anfisbênios apresentam corpo cilíndrico, alongado e com diâmetro uniforme, desprovidos de membros locomotores, exceto algumas espécies do gênero Bipes que ocorrem no México e apresentam patas anteriores bem desenvolvidas, que servem apenas para penetração no solo. São animais especializados para a vida subterrânea, onde vivem em galerias que escavam utilizando o próprio corpo e a cabeça como ferramenta, movendo-se sob o solo para frente e para trás com a mesma habilidade, reforçando a idéia de não ter sido somente o aspecto serpentiforme externo que deu origem à lendária presença de duas cabeças nesses animais. O nome Amphisbaenia deriva-se das raízes gregas amphi [duplo] e baen [caminhar], referindo-se a esta capacidade peculiar de locomoção. Para atender a movimentação debaixo da terra, os anfisbênios sofreram modificações anatômicas internas e externas principalmente na cabeça, originando formas especializadas e não especializadas relacionadas ao modo de escavação: algumas espécies apresentam cabeça rombuda (arredondada), vivendo em solos mais superficiais, outras apresentam focinho quilhado verticalmente e as demais possuem o focinho em forma de pá horizontal, sendo encontradas em solos mais compactados e profundos. A presença de um crânio bastante rígido e sujeito a impactos constantes é também especialização adaptada aos hábitos de escavação dos anfisbênios. A primeira vista, embora a cabeça e a cauda se confundam, em uma observação mais apurada desses animais as extremidades podem ser prontamente distinguidas, afastando-se a idéia de que esses répteis seriam serpentes perigosas bicéfalas e, como tais, apresentariam duas bocas, uma na cabeça e outra na cauda, podendo morder com ambas. Esta crença faz com que muitos desses animais encontrados na superfície do solo em virtude do alagamento de suas galerias em épocas chuvosas, sejam capturados e mortos, acarretando prejuízo para a diversidade biológica. Entretanto, é sabido que as cobras-de-duas-cabeças são predadoras capazes de dominar diversos animais invertebrados e pequenos vertebrados, e como possuem fortes mandíbulas associadas a um conjunto dentário especializado, elas agarram com firmeza suas presas, podendo arrancar pedaços se o animal for grande demais para ser engolido. Normalmente, os anfisbênios se alimentam de minhocas (Annelida), cupins (Isoptera), larvas de tenébrios (Coleoptera) e, em condições de cativeiro, comem neonatos de camundongos (Mus musculus). O Laboratório de Morfologia Comparada de Vertebrados-LAMVER da Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS, desenvolve diversas pesquisas com os anfisbênios, principalmente na área morfológica. Este pequeno grupo de répteis ainda permanece com diversos aspectos da sua biologia desconhecidos em virtude de seus hábitos fossoriais que dificultam as observações e coletas, havendo, portanto, necessidade de estudos mais abrangentes sobre sua importância ecológica e seu modo de vida, de forma que as informações geradas e divulgadas para a população possam eliminar a crença de que os anfisbênios causam danos à saúde humana e desta forma contribuir para preservação do grupo. Para saber mais sobre os anfisbênios, foi elaborada uma cartilha, disponível para download no endereço à seguir: www.uefs.br/download/zoo/cartilha.pdf Profª. Dra. Maria Celeste Costa Valverde Leitura recomendada: NAVEGA-GONÇALVES, M.E.C. Revista Ciência Hoje, vol. 34, nº. 204 maio de 2004. VANZOLINI, P. E. An aid to identification of the South American species of Amphisbaena (Squamata, Amphisbenidae) Papéis Avul. Zool., S. Paulo, 42:351-362, 2002. |