Vegetação e Flora da Caatinga.
A cobertura vegetal natural é sem duvida o mais expressivo reflexo das condições mesológicas que no caso do semi-árido está representada pelo domínio das Caatingas. Apresenta-se, paradoxalmente, com uma diversidade fisionômica e florística porém formando em agrupamento dominado o domínio das caatingas.
São elas formações xerófilas, lenhosas, decíduas, comumente espinhosas com presença de plantas suculentas e estrato herbáceo estacional. As espécies que compõem sua diversidade em geral perdem suas folhas na época de estiagem ou seja apresentam o fenômeno da caducifolia. A produção de folhas e flores depende das chuvas. Como estas são distribuidas desigualmente na maior parte do tempo não existe um único período de floração. Algumas espécies da Caatinga como Tillandsia usneoides, T. Streptocarpa, T. recurvata e T. loliancea retiram água do ar úmido através de seus filamentos que se assemelham a cabelos. É difícil dizer qual a família mais importante da caatinga. As cactáceas imprimem uma fisionomia típica a certas áreas porém são ausentes em outras. Os mais freqüentes são os gêneros Cereus (mandacaru), Filoracereus (facheiro) opuntia (palma) e Melocactus (coroa de frade). As cactaceae e Euphobiaceae vivem muito bem em ambiente seco. Bautista (1986) apresentou uma listagem de plantas arboreas da caatinga onde apontou a presença de 34 famílias e 102 gêneros ocorrendo com 152 espécies, sendo 40% destas pertencentes a família Legumonosae. Dentre as espécies arboreas mais frequentes destacam-se Aroeira (A. urundeuva); Brauna (Schinopus brasiliensis): Umbu (Spondias tuberosa) da família Anacardiaceae; Araticumde-espinho (Annona spinescens); Embira (Guatteria sp); Bananinha (Rolliniopsis discreta) da família Ananaceae; Pereiro (Aspidosperma multiflorum) e Amargoso (Aspidosperma polyneurum) da família Apocynaceae; Pau-d’arco (Tabebuia impetiginosa); Craibeira (Tabebuia caraíba) da família Bignoniaceae; Cnidosculus phyllancanthus) Maniçoba (Manihot sp); Pau-de-leite (Sapuim argutun); Barriguda (Cavanillesia arborea); Imbiruçu (Pseodobombax suniplicifolum) da família Bombacaceae; Unha-de-vaca (Bauhinia heterandra); Catingueira (Caesalpinia bracteosa); São João (Cássia excelsa); Jabotá (Hymenea courbaril) da família leguminosa; Mulungú (Erythrina Velutina); Pau-sangue (Plerocarpus violaceus); Jurema-preta (Mimosa hostilis) e Sabiá (Minosa caesalpinifolia). Estas são algumas espécies e suas famílias que compõem a floristica da caatinga.
A caatinga não é homogenea, apresenta-se como formações diferenciadas, Contribui para isto tanto a sua composição florística como a densidade e o porte de suas plantas.
As subdivisões apresentadas por Luetzelburg (1923) Engle (1951) Veloso (1970) para identificar as diferentes associações foram: Caatinga arborea caracterizada pelo porte florestal com dois sub-tipos: arborea deusa e arborea aberta; caatinga arbustiva que se caracteriza pela uniformidade no seu estrato arbustivo a primeira é considerada uma unidade climax enquanto a segunda como unidade subclimax. A caatinga arbustiva apresenta espécies espinhosas caducas ora com muitas cactaceas ora com marcante presença de bromeliaceas.
Há ainda tipos com a conjugação dos dois anteriores sendo denominadas de caatinga arbustiva-arborea ou arborea-arbustiva conforme predomine num porte ou outro.
Finalmente em afloramento rochoso a caatinga apresenta outra fisionomia: é o campo rupestre. Em sua composição floristica predominam as Bromeliaceas e cactáceas e uma elevada presença de musgos e liquens.
Adaptações às Condições de Aridez
Ao observa-se a distribuição dos seres vivos na biosfera verifica-se que a proteção contra ao fenômeno de aridez, aparece como modificações na estrutura morfofisiológica. Portanto é comum encontra-se nas Caatingas plantas que têm a faculdade de armazenar água como reserva. Um exemplo pode ser dado pelas cactaceas que sobrevivem às condições de escassez de água suportando inclusive intensa irradiação solar e temperaturas elevadas. Seu alto grau de diferenciação empresta-lhes feições bem particulares, que congrega dois tipos de cactaceas com características das mais exóticas. Graças a estas estruturas adaptativas os cactos são capazes de consumir e perder uma quantidade mínima de água armazenada. Ao contrário do que ocorre nas outras planas os cactos fecham seus estomatos durante o dia quando a evaporação aumenta muito e abrem no período da noite quando há diminuição da evaporação e aumento da umidade. O Dr. Rizini Toledo, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro em seu artigo sobre Cactaceas aponta as principais adaptações apresentadas. São elas:
a) formas globoides e elipsóides;
b) ausência de folhas ou seja apresentam afilia;
c) cuticulas espessas, revestimento de cera, variadas coberturas de pêlos e baixa densidade de estômatos; todas estas contribuindo para dificultar a transpiração;
d) presença de tecidos de substancias que favorecem a retenção de água como mucilagem;
e) sistemas radiculares extensos e superficiais, formação rápida de raízes absorventes nas épocas de chuva, como absorção imediata de água atmosférica pelos espinhos. Todas estas estruturas voltadas para a pronta absorção de água. Plantas fanerógamas como o umbuzeiro (Spondias tuberosa) cujo fruto é muito apreciado, armazena água em suas raízes, a qual é usada pelos vaqueiros para matar a sede quando estão campeando na Caatinga. A barriguda (Bombax cavanillesia) apresenta enorme espessamento do tronco pelo acumulo de água. É um caso de suculência muito especial comum à família das Bombacáceas e à algumas palmeiras do Nordeste. Um fenômeno interessante foi detectado pelo professor Andrade Lima na microrregião dos Cariris Velhos e apresentado pelo Pereiro (Aspidosperma multiflorum) planta bastante freqüente naquela região, cujas flores de cor branca exalam um odor muito agradável. Esta planta inicia uma ramificação bem próxima ao solo formando uma circunferência. Os ramos e as folhas cobrem uma área em volta da planta mantendo um microclima necessário ao seu desenvolvimento. Quanto a planta atinge a uma determinada altura estes ramos caem desaparecendo. Este é um exemplo que envolve a interação entre o solo e o processo de crescimento. Professor Dardano chamou os pereiros neste estágio de pereiros-de-saia.
Finalmente um mecanismo quase generalizado nas plantas da Caatinga e a caducifolia ou seja a capacidade que as plantas têm de perder suas folhas para diminuir o metabolismo e sobreviver em período de estiagem.
Fonte:
Jornal Universidade Aberta do Nordeste – Caderno Ecologia
Realização: Fundação Demócrito Rocha
Ceará, Edição nº12, pags. 3,4,5
Texto: Profa. Maria José de Araújo Lima e Profa. Marília Lopes Brandão