REINTRODUÇÃO DO JABUTI NA FAZENDA MORRINHOS, NO MUNICÍPIO DE QUEIMADAS.
A família Testudinidae compreende o gênero Geochelone que é subdividida em duas espécies de nosso interesse: G. denticulata – Jabutitinga e G. carbonaria – Jabuti piranga; espécie com área de distribuição nas regiões sudeste, nordeste e centro-oeste. Habitam florestas densas e úmidas, ocorrendo também em locais mais abertos na Região Nordeste (Caatinga) e Centro-oeste (cerrado). É bastante conhecido no Nordeste como cágado. Nos últimos 20 anos na região da Caatinga teve início acentuado desmatamento com vista à implantação da pecuária, paralelo aos períodos constantes de estiagem prolongadas, com conseqüente falta de alimento à população rural e o hábito da caça, que aproveitava a carne do jabuti como prato tradicional na região; além da utilização do seu óleo para fabricação de produtos dermatológicos caseiros, levaram por completo a extinção dessa espécie praticamente em todo o Nordeste, principalmente no município de Queimadas. Em 1981 o professor Guido Rummler pesquisador do Instituto de Ciências da Saúde da UFBA, já se preocupava com a extinção do Geochelone carbonaria – jabuti na região de Queimadas e realizava pesquisas de laboratório desenvolvendo experiência de reprodução da espécie em cativeiro. Diante dos fatos expostos acima e pela quantidade de animais com entrada no Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama, oriundos de apreensões pela equipe de fiscalização do DAS do Ibama, Policia Ambiental do Estado e por doações de particulares, decidimos realizar um trabalho piloto de reintrodução do jabuti na região de Queimadas. O jabuti é uma espécie rústica, resistente, desde que tenha suas exigências ecológicas cumpridas. Não dispõe de mecanismo de termorregulação (a sua temperatura corporal varia de acordo com as condições do clima). Como espécie terrestre (apesar de nadar bem), existe o dimorfismo bem evidenciado, com uma concavidade do plastrão dos machos adultos, que é utilizado como um “encaixe”, no momento da cópula. Nos machos jovens a concavidade no plastrão não é perceptível, para podermos identificar o sexo nesses indivíduos, devemos observar o tamanho da cauda nos exemplares a serem sexuados. Os machos, desde jovens (em torno de 1 ano), a cauda é bem maior que na fêmea, pois o pênis dos quelôneos, desliza sob uma discreta fenda, na fase interior da extremidade da cauda. A abertura do plastrão do macho, por onde sai a cauda é mais estreita do que nas fêmeas. A cauda da fêmea é menor e mais rombuda do que no macho, pois possui uma abertura do plastrão para saída da cauda, muito mais larga que no macho, visando facilitar as fêmeas no ato da postura. Em cativeiro cada fêmea desova em média três ou quatro vezes ao ano (há uma variação de até oito posturas por fêmea), principalmente uma maior incidência durante o Verão. Podemos observar acasalamentos e posturas durante praticamente todo o ano. A base de uma alimentação de frutas, legumes, proteína animal (ração, carne moída crua, peixe cru e ovo cozido) é fundamental para que os jabutis tenham um crescimento normal (cativeiro). Na natureza se alimentam de gramíneas, forrageiras e alguns insetos. A fase adulta ocorre por volta dos 10 anos de idade, levando em consideração que há uma pequena variação entre macho e a fêmea. A maturidade sexual do macho ocorre um pouco mais cedo, entre 8 a 10 anos; e na fêmea entre os 10 e 12 anos. O presente trabalho consiste inicialmente em etapas de avaliação dos jabutis dentro do Centro de Triagem – Cetas, como: quantificação, identificação dos sexos, exame clínico e laboratorial (fezes), medição (largura e comprimento), peso. Cada animal dispõe de uma ficha individual constando seus dados; na segunda etapa avaliamos o tipo de alimentação aceita e consumida, movimentação e comportamento agonístico; na terceira etapa que é da pré-reintrodução, separamos os grupos por idade, tamanho e peso, realizamos a marcação dos animais, através de furos nas escamas marginais e pintura a óleo na parte superior da carapaça (tinta brilhante) e por último uma semana antes da soltura realizamos uma vermifugação em todo o plantel; de por ultimo a reintrodução ou soltura dos grupos já definidos nas áreas pré-selecionadas, que foram duas. As áreas escolhidas foram selecionadas por critérios de vegetação mais densa, dimensão e disponibilidade de água. Foram realizadas prelinarmente no período entre 11.08 a 08.12.90, soltura de um grupo de jabutis nessa fazenda com vista a conhecermos um pouco o comportamento dessa espécie nessa região. Os animais soltos não sofreram maiores critérios quando a sua seleção, apenas foram separados em grupos, identificados os sexos e marcados individualmente com tinta óleo branca na parte superior da carapaça, com vista a melhor visualização em campo. Essa fase serviu para avaliarmos a movimentação dos animais na própria região de soltura, foram observados num período após 4 meses que os animais se movimentam para locais distintos, num raio de aproximadamente 2kmdo ponto de soltura. A segunda soltura foi realizada em 21.12.1991, onde foram soltos nove exemplares entre machos e fêmeas na área numero I. Todos estes animais passaram por todas as fases de avaliação para a soltura final. Paralelo à realização prática deste trabalho, estamos realizando juntamente com o proprietário da Fazenda Morrinhos, uma conscientização aos empregados da fazenda e de fazendas vizinhas, com vista a mostrarmos a importância da preservação desta espécie na região da caatinga. Acreditamos que, com a ajuda das pessoas que moram e vivem exclusivamente dos recursos naturais da região, possam, a longo prazo, reverter esta situação atual em que se encontra o nosso jabuti. Jornal A Tarde – Caderno Rural |